sexta-feira, 30 de julho de 2010

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Desvendando a Arqueologia: uma viagem ao passado
(Parte I – Arqueologia e Histórico da Arqueologia)

Por Antonio Canto*
       Dedicamos este espaço para apresentar, de maneira simples e objetiva, uma panorâmica sobre a Arqueologia, abordando aspectos que possibilitarão, ao leitor, uma viagem ao passado através desta fascinante ciência. Destinado a um público estudantil, intencionamos divulgar aos alunos do 1º e 2º graus, ou mesmo do 3º grau e demais interessados na temática, as pesquisas aplicadas pelos arqueólogos para reconstituir o modo de vida das populações passadas. 
       A iniciativa de elaboração dos textos que serão apresentados em nossa coluna encontra resposta no pouco espaço destinado a arqueologia (pré-história) no currículo da disciplina de história nas escolas de 1º e 2º graus no Brasil, resultando na falta de conhecimento do patrimônio arqueológico brasileiro pelas diversas gerações formadas nestas escolas.
       A partir da série “Desvendando a Arqueologia: uma viagem ao passado” discutiremos no Site Brasil Escola, através de pequenos textos e fácil leitura, questões que vão desde o conceito da arqueologia, origem e processo evolutivo do homem (analisando a sua relação com o meio ambiente na pré-história), até o momento em que se deu a produção dos seus objetos utilitários (instrumento de caça, ferramentas líticas, cerâmicas, etc.).
       A estratégia dessa divisão busca orientar o leitor a um maior aprofundamento dos termos utilizados pelos arqueólogos para analisarem os sítios arqueológicos. Sendo assim, abordaremos, na coluna de arqueologia, as seguintes questões:
- noções gerais sobre a pesquisa arqueológica, em que o conceito, os objetivos desta ciência e o trabalho do arqueólogo são detalhadamente discutidos;
- informações sobre o meio ambiente em que o homem pré-histórico estava inserido, observando-se, simultaneamente a esta análise, as mudanças na estrutura genética do homem para se adaptar à dinâmica do ambiente;

- uma análise dos artefatos produzidos pelos grupos pré-históricos. Discute-se, nesta etapa, a confecção e a utilização das ferramentas líticas (em pedra) e da cerâmica arqueológica;
- os métodos de datação utilizados na Arqueologia para situar, temporalmente, os sítios arqueológicos e datar os artefatos encontrados nestes sítios;
- arte rupestre. Discutem-se, neste capítulo, as técnicas utilizadas para a realização das pinturas e gravuras feitas nas pedras;
- a ocupação sambaquieira.

Com esta proposta de trabalho estaremos contribuindo para divulgar a pré-história e a historia brasileira como forma de promoção permanente de atividade de Educação Patrimonial, na perspectiva de despertar, no leitor, uma conscientização voltada para a preservação do patrimônio arqueológico brasileiro.
Posteriormente a série “Desvendando a Arqueologia: uma viagem ao passado”, apresentaremos os resultados das pesquisas arqueológicas em diversos sítios arqueológicos do Brasil em que o autor desta coluna vem trabalhando sistematicamente. Vamos conhecer a arqueologia? Boa viagem ao passado!
O que é Arqueologia?

Arqueologia é a disciplina que estuda a cultura material de sociedades que têm escrita ou não. É um ramo da ciência que possibilita ao pesquisador estudar, conhecer e reconstituir o modo de vida das sociedades coloniais e pré-coloniais.
         A palavra ARQUEOLOGIA tem origem grega, em que Archaios significa passado / antigo e, Logos significa ciência / estudo. Somando-se estas duas palavras, podemos definir a Arqueologia como a ciência que estuda o passado. 
         A partir desta ciência, o arqueólogo (pesquisador que estuda a arqueologia) identifica objetos que pertenceram aos povos do passado, como: fragmentos de cerâmica, ferramentas em pedra, instrumentos de caça e pesca, restos de alimentos, ossos, restos de habitações, dentre outros achados.
         Com base na análise minuciosa desses vestígios materiais, é possível obter informações sobre as culturas antigas, reconstituindo aspectos socioculturais e ambientais da vida dessas populações.
         Estas informações permitirão ao arqueólogo resgatar dados referentes às primeiras formas de organização social e do espaço, da economia, das manifestações culturais e dos aspectos políticos de grupos que ocuparam uma determinada área no passado longínquo (pré-colonial) ou não muito distante (colonial). 
         Diante das definições acima, pode-se diferenciar duas ciências que estão ligadas, mas que são completamente distintas. São elas a Arqueologia e a Paleontologia.
         Durante muito tempo a imagem do arqueólogo ficou associada ao pesquisador que estuda os dinossauros. Mas esta função não diz respeito ao arqueólogo, e sim ao paleontólogo (profissional que se dedica ao estudo dos animais e vegetais fósseis).
         Enquanto o arqueólogo busca entender como viveram as sociedades em períodos passados, o paleontólogo se preocupa em reconstituir a vida dos animais extintos há milhares de anos.
         O registro arqueológico é formado pelo resultado da ação do homem em criar ou destruir materiais que chamamos de artefatos. Estes restos de objetos deixados no solo pelo homem permitirão contar a história destes povos que tinham, ou não, o domínio da escrita.
         Por este motivo, separamos a Pré-história da História (ou período pré-colonial do colonial, conforme a nova terminologia utilizada por alguns arqueólogos para definir, respectivamente, o período anterior e posterior ao contato com o europeu). A pré-história seria o período anterior a escrita. Mas, levando-se em consideração que a escrita obteve desenvolvimento diferenciado entre as diversas partes do mundo, o limite entre a Pré-história e a História é variado.
         No Egito e na Mesopotâmia, tem-se registro de que a escrita surgiu por volta de 4.000 a.C., limitando-se neste período a pré-história e a história com o advento da civilização. No entanto, só a partir do século XV, com a colonização européia, marca-se a transição desse período na África Central, na Austrália e na América.

         Aqui no Brasil, por exemplo, chamamos de pré-história o período anterior ao descobrimento do Brasil pelos portugueses, ou seja, antes do ano 1500.
         Durante a pré-história, o Brasil foi ocupado apenas por grupos que não tinham o domínio da escrita, mas que tinham o hábito de caçar, pescar e coletar alimentos, produzir cerâmicas e desenvolver a pratica da agricultura.
         No litoral, antes do descobrimento oficial do Brasil, o país foi habitado por um povo ainda mais antigo do que os índios, denominados sambaquieiros.
         Chamamos de sambaquieiros, grupos de pescadores-caçadores-coletores que ocuparam a costa brasileira por volta dos 6000 anos AP (antes do presente), que tinham o hábito de amontoar conchas nos locais de sua moradia que denominamos de sambaqui (palavra de origem Tupi).
         Essa atividade repetitiva, durante muito tempo, resultou em grandes montes de conchas com dimensões que variam entre 2,0m e 30m de altura. Nestes montes artificiais de conchas, encontram-se presentes: sepultamentos, restos faunísticos, artefatos líticos, ossos, material malacológico (moluscos), zoolitos (esculturas animais em pedra) dentre outros elementos.